segunda-feira, 30 de junho de 2008

MAIOR É O QUE ESTÁ EM NÓS


“Naquele dia, já bem cedinho, o empregado de Eliseu levantou-se e saiu de casa. Aí viu as tropas sírias com os seus cavalos e carros de guerra, cercando a cidade. Então entrou em casa e disse a Eliseu:
-Senhor, nós estamos perdidos! O que vamos fazer?
Eliseu disse:
-Não tenha medo! Pois aqueles que estão conosco são mais numerosos do que os que estão com eles.
Então orou assim:
-Ó Senhor Deus, abre os olhos do meu empregado e deixa que ele veja!
Deus respondeu a oração dele. Aí o empregado de Eliseu olhou para cima e viu que ao redor de Eliseu o morro estava coberto de cavalos e carros de fogo” (2 Rs 6, 15-17)

Ao olharmos ao nosso redor hoje, vemos como o mal tem se alastrado e como a treva tem coberto nosso tempo. Desestruturação familiar, corrupção generalizada, esfriamento da caridade, manipulação da fé por parte de seitas, tragédias humanas, catástrofes naturais e como se não bastasse, o mundo abraça novamente o paganismo.
Os servos de Deus diante de desafios cada vez mais gigantescos, tendem ao assombro e ao sentimento de impotência. Quando levantamos a voz para proclamar a Palavra, parece que não somos ouvidos. As pessoas até gostam do nome de Jesus e apreciam as musicas de mensagem religiosa, mas não estão dispostos a ouvir e praticar o Evangelho, ném tampouco abraçar a mensagem da cruz.
Precisamos entender que a realidade não é apenas esta que vemos. Necessitamos encorajar os irmãos que estão cansados na caminhada e amedrontados pelo avanço do príncipe deste mundo e dizer-lhes:
-Não tenha medo! Pois aqueles que estão conosco são mais numerosos do que os que estão com eles.
Há muitos que se sentem sós no anúncio do evangelho. Por estes precisamos interceder pedindo:
-Ó Senhor Deus, abre os olhos desse servo e deixa que ele veja!
E quanto a cada um de nós, em meio às batalhas da vida e à semeadura do Evangelho, precisamos repetir continuamente a frase que o Apóstolo João pronunciou no início da Igreja, num período parecido com o nosso:

-MAIOR É O QUE ESTÁ EM NÓS DO QUE AQUELE QUE ESTÁ NO MUNDO (1 Jo 4,4)

A ESCALADA DO MAL


“O seu entendimento e a sua sabedoria o protegerão e o livrarão de fazer o mal. Assim, você ficará longe das pessoas que vivem dizendo mentiras – pessoas que abandonaram uma vida direita para viver na escuridão do pecado; pessoas que têm prazer em fazer o mal e se alegram quando o mal é praticado.” (Pv 2, 11-13)

É sempre assim; primeiro vem as pequenas transgressões (mentiras) e depois o mal vai crescendo de forma gradual em nossa vida. O texto do livro de provérbios ilustra bem isso. Se acostumar com mentiras é lamentável, abandonar uma vida direita e viver na escuridão é perigoso para o corpo e para a alma, contudo ter prazer em fazer o mal e se alegrar quando ele é praticado é monstruoso, desumano e patológico.
Precisamos ter os olhos fixos em Jesus:

a)Para não nos perdermos em estradas escuras
ELE É O CAMINHO

b)Para não criar o hábito da mentira
ELE É A VERDADE

c)Para não ter prazer e se alegrar com o mal e a morte
ELE É A VIDA!

Que O Senhor nos livre de permitirmos o mal em nossas vidas, acostumarmo-nos com ele ou alegrarmo-nos quando ele for praticado, seja por nós ou qualquer outra pessoa.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

PRESENÇA SILENCIOSA


“Jó tinha três amigos... Eles ficaram sabendo das desgraças que haviam acontecido a Jó e combinaram fazer-lhe uma visita para falar de como estavam tristes pelo que lhe havia acontecido e para consola-lo... Em sinal de tristeza rasgaram as suas roupas e jogaram pó para o ar e sobre a cabeça. Em seguida sentaram-se no chão ao lado dele e ficaram ali sete dia e sete noites e não disseram nada, pois viam que Jô estava sofrendo muito”.
Acredito que tão doloroso quanto passar por um sofrimento profundo é vermos quem amamos sofrer sem que possamos fazer nada. Às vezes nos encontramos em situações assim. É assim que nos sentimos quando pessoas que nos são queridas atravessam momentos trágicos e calamitosos, situações onde os porquês só encontram o vácuo. Momentos que sabemos: qualquer palavra de consolo e conforto beira a hipocrisia (pois se fosse conosco estaríamos da mesma forma), ao artificial e ao não autêntico.
Lembro de quando um dos nossos catequistas veio a falecer num acidente de moto; a cidade ficou chocada, a desorientação era padronizada em todos. Muitos vieram à casa paroquial, exigindo um porque e um sentido para aquele absurdo. Eu convidei todos a nos unirmos em oração e colocarmos aquela experiência na cruz de Cristo. Depois, demo-nos as mãos e seguimos rumo à casa da família enlutada. Lá, fizemos o que Jesus fez em muitas situações: calamos-nos e choramos. Calamos para que a voz de Deus se fizesse ouvir em meio aquela noite densamente escura. Choramos porque na Igreja, quando um membro sofre, todo o corpo padece. Pedia a Deus que me ensinasse a ser pastor naquele momento difícil para aquela família prostrada pela dor. Naquele dia, no silêncio do meu coração, eu repetia continuamente uma frase pronunciada por Jó no período árido de sua vida: “Eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra! ”(Jó, 19,25). No momento pensei que a minha presença silenciosa era impotente, contudo, alguns dias depois, descobri que minhas lágrimas, meu silêncio, meu abraço e minha dor escondida tinha sido uma fonte de força para eles. Ali naquele dia terrível, eu descobri que não sei responder tudo, que sofremos menos quando sofremos juntos e que Deus também silencia e chora, sem deixar, contudo, que a dor e a morte tenham a palavra final.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

O DESEJO DE SER FIEL


“E disse Salomão: Tu sempre mostraste grande amor por Davi, meu pai, e ele era bom, fiel e honesto para contigo” “1Rs 3,6

Quando uma pessoa é profundamente tocada por Deus e faz a experiência de sentir o seu amor infinito, se descortina para a sua vida um novo horizonte. A maior experiência que uma pessoa pode realizar é a de sentir o quanto é amada pelo Senhor. Isso não se dá apenas compreendendo com o intelecto. É uma experiência que envolve a totalidade da pessoa e sempre é acompanhada com a percepção de nossa pequenez, da bondade e da beleza de Deus. O surpreendente fato de sentir nossa história marcada pelo pecado e por tantas imperfeições, sendo coberta pela bondade divina nos deixa desconcertados, sem palavras e afetados profundamente. Foi precisamente assim que se sentiu Santo Agostinho ao meditar em tão grande amor:
“As lágrimas... elas descem e eu as deixo fluir como convém, fazendo delas uma almofada para o meu coração. Nelas, ele descansou.” (Confissões IX, 12). O olhar amoroso do Senhor nos surpreende: “Eu não consigo entender como tu me conheces tão bem; o teu conhecimento é profundo demais para mim.” (Sl 139,6).
Foi meditando sobre o gigantesco amor de Deus e sentindo-se alvo desse amor, que muitos santos experimentaram o êxtase, ou seja, fizeram uma entrega total a esse amor e se lançaram com coragem inquebrantável na sua vocação e missão; foram embriagados do amor divino e dele transbordaram, tornando-o conhecido em toda a terra. É precisamente disso que fala o Apóstolo Paulo: “De fato, diante de Deus nós somos o bom perfume de Cristo entre aqueles que se salvam e entre aqueles que se perdem” (2Cor 2,15). A alma, assim agraciada manifesta a alegria e a caridade e torna-se profundamente dócil à ação do Espírito Santo, invocado também na Igreja como o Óleo da alegria.
É encantador, sobretudo contemplar essa manifestação divina em um novo convertido. Como é resplandecente a alma que através do kerigma, (1º anuncio que provoca conversão), se encontra com Jesus vivo e ressuscitado e o proclama como Senhor de sua vida. Através de um caminho de fé, tantos frutos resultam dessa alma: interesse e prazer na leitura e meditação da Palavra de Deus, amor pela Igreja, participação ativa, consciente e frutuosa nos Sacramentos, principalmente na Santa Missa, prática da oração pessoal e comunitária, mudança na mente e no coração revelado por um novo estilo de vida, ardor missionário, coração marcado de caridade fraterna e aberto ás necessidades dos irmãos etc.O fiel, por sua vez, sente-se profundamente impulsionado a responder a esse amor divino. É algo tão forte que se impõe até como necessidade básica. Dentro dessa resposta está o sincero e apaixonado desejo de ser fiel a Deus. É sobre isso que falou São Josemaria Escrivã: “A tua felicidade na terra identifica-se com a tua fidelidade à fé, à pureza e ao caminho que o Senhor te traçou”. Para encorajar seu desejo de fidelidade o cristão tem também um exemplo formidável: Nossa Senhora. Ela é invocada na ladainha como a Virgem Fiel. Essa palavra (“fiel”)que nós empregamos geralmente a todos os membros da Igreja é atribuída com toda a sua propriedade a todos os cristãos que em sua peregrinação terrestre, mesmo com suas fraquezas, colaboraram com a graça de Deus e não abandonaram as esperanças e os compromissos da fé.