sexta-feira, 27 de junho de 2008

PRESENÇA SILENCIOSA


“Jó tinha três amigos... Eles ficaram sabendo das desgraças que haviam acontecido a Jó e combinaram fazer-lhe uma visita para falar de como estavam tristes pelo que lhe havia acontecido e para consola-lo... Em sinal de tristeza rasgaram as suas roupas e jogaram pó para o ar e sobre a cabeça. Em seguida sentaram-se no chão ao lado dele e ficaram ali sete dia e sete noites e não disseram nada, pois viam que Jô estava sofrendo muito”.
Acredito que tão doloroso quanto passar por um sofrimento profundo é vermos quem amamos sofrer sem que possamos fazer nada. Às vezes nos encontramos em situações assim. É assim que nos sentimos quando pessoas que nos são queridas atravessam momentos trágicos e calamitosos, situações onde os porquês só encontram o vácuo. Momentos que sabemos: qualquer palavra de consolo e conforto beira a hipocrisia (pois se fosse conosco estaríamos da mesma forma), ao artificial e ao não autêntico.
Lembro de quando um dos nossos catequistas veio a falecer num acidente de moto; a cidade ficou chocada, a desorientação era padronizada em todos. Muitos vieram à casa paroquial, exigindo um porque e um sentido para aquele absurdo. Eu convidei todos a nos unirmos em oração e colocarmos aquela experiência na cruz de Cristo. Depois, demo-nos as mãos e seguimos rumo à casa da família enlutada. Lá, fizemos o que Jesus fez em muitas situações: calamos-nos e choramos. Calamos para que a voz de Deus se fizesse ouvir em meio aquela noite densamente escura. Choramos porque na Igreja, quando um membro sofre, todo o corpo padece. Pedia a Deus que me ensinasse a ser pastor naquele momento difícil para aquela família prostrada pela dor. Naquele dia, no silêncio do meu coração, eu repetia continuamente uma frase pronunciada por Jó no período árido de sua vida: “Eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra! ”(Jó, 19,25). No momento pensei que a minha presença silenciosa era impotente, contudo, alguns dias depois, descobri que minhas lágrimas, meu silêncio, meu abraço e minha dor escondida tinha sido uma fonte de força para eles. Ali naquele dia terrível, eu descobri que não sei responder tudo, que sofremos menos quando sofremos juntos e que Deus também silencia e chora, sem deixar, contudo, que a dor e a morte tenham a palavra final.

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